segunda-feira, 27 de julho de 2009

A flor

Há uns anos atrás, uma pessoa especial ofereceu-me um livro de Almada Negreiros. Li-o e achei-o uma «seca». Mas descobri um texto que, sempre que o leio, me faz brotar as lágrimas dos olhos e me comove até ao mais profundo de mim: um texto simples, mas de uma inspiração e uma verdade maravilhosas.
Cá vai ele: espero que gostem!

«A Flor
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis.
A criança vai sentar-se no outro canto da sala, onde não há mais ninguém. Passado algum tempo, o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois, a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham estas linhas parecidas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!»

Almada Negreiros

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